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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

UM POUCO SOBRE O ARTISTA PAULO ARBO

Paulo Arbo Parbo é poeta, compositor, artista plástico, escultor em madeira e metal, e artesão com material reciclável. Na 29 Expoesia (Capori-Feci-Inter-2007), recebeu o Prêmio M. Cabeda Perez por Originalidade. Tem 4 livros editados em edição independente. É mantenedor de uma escolinha de artes, Projeto Conchinhas, para crianças carentes na Vila Portelinha – Jardim do Édem – em Tramandaí, RS.
Parbo também atua como fotógrafo amador, colaborando com publicações alternativas e foi classificado pelo jornal O Sul em concurso. Possui um acervo com aproximadamente 2 mil obras, e realiza exposições em eventos culturais e escolas.
O poeta nasceu nas Missões, no interior norte do RS, onde passou sua infância. Mato e terra vermelha por todos os lados, acabaram marcando a paisagem de suas poesias e sua arte. O seu amor pela natureza e tudo que é criado pelo Senhor do Universo, faz dele e de sua obra, um poeta livre de culpas e fecundo em seu trabalho literário e musical, tornando as pessoas felizes ao lerem os seus poemas ou escutarem suas músicas gravadas em festivais do sul, inclusive a música Monjolo, gravada pela OSPA.
O artista seguiu o rumo do asfalto que leva à cidade grande, tornando-se um vivente urbano, sem esquecer as belezas do interior, da terra vermelha, dos ervais nativos e do vento seco que sopra agitando as águas do rio Uruguai.
É um ativista cultural em permanente ação, freqüentador da Casa do Poeta Riograndense. Leia neste blog algumas de suas poesias.

O LIVRO

O livro é feito de margens,
Margens das estradas,
De caminhos
E eu ando.
É árvore de sombra,
Eu me refresco;
De frutos
E eu me alimento.
Olhos e caminhos,
Iluminados,
Repletos de Auroras,
Amanhecidas,
Rosadas.
Palavras lidas,
Relidas;
Palpáveis de folhas.
O livro é a passagem,
O corpo e a mente passam.
Escada que
Os pensamentos sobem,
Depois voam,
Asas em liberdade.
Jovens felizes,
Constelados de letras,
Buscam espaços,
Espocam como flores;
Sementes germinando
Na terra da Pátria
Em alvorecer.
Belo livro.
Bela história.
Belo país.
Que vontade de cantar
E amar.

O VIADUTO OTÁVIO ROCHA (musicada)

Ó viaduto
Da Borges de Medeiros
D´onde estão
Os teus pedreiros
Teus oleiros e obreiros?
Porque não voltam,
Voltam, voltam
No silêncio das madrugadas
Para verem o que os homens
Os teus herdeiros
Fizeram das tuas muradas,
Maltrataram tuas escadas.
Ó viaduto de mil encantos
Ó gigante monumento
Esse é o meu triste canto
Este é o meu lamento.
Ó frágil gigante,
Nascido de concreto e aço
Que com fortes,
Longos braços
E com todo o seu muque
Sustentando no seu lombo
Pelas noites, pelos dias
A pesada rua
Duque de Caxias.
Ó viaduto
Da Borges de Medeiros
Ponto dos encontros
E também dos desencontros
Por onde todos já passaram
Com seus amores
E passarão
Levando sonhos no coração.
Pelas tuas escadarias
Nas tardes domingueiras
O riso das gurias
Alegres e faceiras
Já não se ouve mais,
Mesmo assim,
Todo remendado
Mal cuidado, desgastado,
Jamais deixarás de ser
O viaduto de mil segredos
Sentinela vigilante
Nos encontros dos amantes.

AMIGOS

Por onde andam, vocês?
Só me lembro, saudoso,
Do colégio,
Da tabuada dos "9",
O alarido do recreio,
Ainda ecoa
No riso das gurias,
Feito perfume
Que se esvoa no ar.
Ainda lembro do banho
Nas sangas
E nos riachos,
Das pescarias de lambari, e,
Também de ti,
Amigo do peito.
Depois,
Saudade dos bailes,
Das fuzarcas inocentes
Pelas madrugadas,
Da lua cheia pelo céu
Da minha infância,
Das serenatas ardentes
Nas janelas das amadas.
Sabem,
Os rostos,
Os semblantes,
Os gestos,
O andar,
A voz,
O sorriso
De cada um de vocês
Estão sumindo, sumindo,
Como fumaça,
Subindo, subindo...
E, eu,
Fico muito triste
Lembrando de vocês,
Amigos.
Agora,
Não sei
Se volto para procurá-los,
Ou continuo,
Sempre em frente,
Até que de repente
Possa encontrá-los,
Novamente,
Amigos.

FILHOS

Por vocês, me fiz
Rochedo
Cravado no chão.
Sentinela intrometida
No caminho dos seus destinos.
Meninos,
Fui cúmplice das estações do ano
Para vocês crescerem mais ligeiro.
Alerta estive sempre
Segurando mãos pequeninas
Nos dias e nas noites de trovão.
Presença certa, também
No amanhã e no ontem, no hoje.
Até fiz sombra com as mãos, no clarão
Do sol ardendo. Lembram?
Eu protegia, guardava.
E, no escuro do quarto de vocês,
Tentava ser uma luz de farol.
Filhos,
Por vocês, me fiz
Uma fresca
E larga sombra
De descanso e proteção.
Fui ancoradouro
Vertente
Aguada e cacimba
Ramada verde
Florida de néctar
E mel,
Porque vocês
Eram tão pequeninos
Que cabiam, juntos, todos,
No mesmo abraço.
Também, naquele tempo,
Eu parecia um cais imenso
Em um porto seguro,
Mas, eu era tão somente
Um pai...
Como tantos, meus meninos...
Só coração.

DIANTE DE TI

Se um dia
O meu grito
A minha voz
A minha lembrança
Te alcançar,
Não pare
Prossiga
Não olhe para trás.
Se um dia
A saudade de mim
Te alcançar,
Não ligue, prossiga.
Mas
Se um dia
A minha fala
O meu riso
O meu jeito
O meu cheiro chegar
Com os teus sonhos,
Acorde,
Abra os olhos
E me verás
Diante de ti.
Eu sempre estive presente!

LIBERDADE

Vencido, mas não domado,
Quando as portas se fecharam,
Depois que bati nelas,
Porém, me consolo, porque,
Sobraram ainda as janelas
Para tentar novamente,
Ser recebido, ou quiçá,
Pelo menos, espiar por elas.
E gritar, ô, lá de casa!
Vencido, mas não domado,
Quando todas as portas se fecharam,
Agora, eu vi o rei chegar e entrar
Com toda sua cambada de asseclas,
Portanto, ele estava em casa.
... Cachorrada, cadelada...
Pipi no meu pátio não...
Então, por que não me abriu as portas?
Se eu nunca fiz arruaça
Perto do seu trono, nem atirei pedras
No seu reluzente brasão,
Nem cuspi na sua bandeira!
Agora, meu rei sem coroa, ouça-me:
Quando voltar lá, outra vez, levarei
As minhas cobras, os meus lagartos,
Os meus escorpiões,
Pois, eu quero de volta a minha liberdade
Prometida durante a campanha que fiz
Para a reeleição do seu reinado;
Liberdade, lembra, majestade, liberdade
De recitar os meus versos e poesias
Pelos corredores do seu palácio,
À tardinha e no romper da alvorada.

EU TE ESPERAVA

Eu te esperava com a aurora do novo dia,
E não vieste!
Indaguei ao pó dos caminhos
E não me responderam.
Busquei-te em fontes ocultas,
Em urzes,
Em ninhos abandonados,
E não te encontrei.
Busquei-te em momentos passados,
Acumulados
E fixos;
Em futuros imensos e vazios
E não te encontrei.
Mas, eu te imagino e te possuo,
E sei que virás com auroras de outros dias.
Mas, por que não vieste com a aurora
do novo dia que eu esperava?
Por que?


(Premiada: Concurso Minas Gerais/BR)